sábado, 16 de junho de 2007

Cometas na Cintura de Asteróides: a reactivação do 133P/Elst-Pizzaro

Dave Jewitt, Pedro Lacerda e eu, acabámos de detectar a reactivação do cometa 133P [ver a figura]. Esta reactivação surge um pouco antes do esperado [ver a Circular do IAU, comentada, no fim deste post]. O 133P é um dos três "cometas da cintura principal" (CCPs) conhecidos [i.e. cometas na cintura principal de asteróides, que se encontra entre Marte e Júpiter], cujo diâmetro rondará os 5 km.






[Legenda: Cometa 133P ao centro da imagem. A figura é uma soma de várias imagens centradas no cometa (que se vai movendo) daí as estrelas parecem arrastadas]


Esta nova classe de cometas foi apenas identificada em 2006, por H. Hsieh e D. Jewitt [ver também o comunicado de imprensa].

A existência destes cometas no "meio" da cintura de asteróides ilustra bem o quanto ainda há para saber sobre os cometas e os asteróides. Principalmente sobre a distinção entre estas duas classes de objectos. [Não é apenas a distinção entre planeta, planeta anão e pequeno corpo que é polémica!]

Uma consequência imediata da existência destes cometas da cintura principal (CCPs) é poderem ter sido uma fonte significativa da água na Terra. As actuais medições de cometas anteriormente conhecidos sugerem que estes apenas poderão ser responsáveis por uma parte da água na Terra (cerca de 10%). Porém, estes novos CCPs não aparentam ser antigos cometas de curto período [digamos: cometas típicos] que alteraram a sua órbita para a cintura de asteróides, aparentando sim serem "nativos" daquela região. Assim sendo, os CCPs poderão ter, e provavelmente terão, uma composição química apreciavelmente diferente dos cometas típicos. Estes novos cometas podem muito bem conter os segredos da origem dos nossos oceanos.


Circular No. 8847 [comentada]

Central Bureau for Astronomical Telegrams

INTERNATIONAL ASTRONOMICAL UNION

COMETA 133P/ELST-PIZARRO

D. Jewitt, P. Lacerda, e N. Peixinho, Universidade do Hawaii, comunicam que o cometa 133P/Elst-Pizarro = pequeno corpo (7968) Elst-Pizarro se tornou activo após um longo período de inactividade. Observações no óptico [visível] com o telescópio de 2.2 m da Universidade do Hawaii, a 11 de Junho, mostram uma cauda direita com pelo menos 20 segundos de arco de comprimento [correspondendo a pelo menos 26000 km, dado o objecto se encontrar a 1.812 Unidades Astronómicas da Terra] num ângulo posicional de 256 graus [ângulo com o Pólo Norte Celeste, neste caso o topo da imagem, medido no sentido anti-horário]. A magnitude aparente no vermelho [i.e. com um filtro centrado no comprimento de onda de cerca de 650 nm] dentro de uma abertura de 8 segundos de arco [...] é aproximadamente de 19.5. Actividade no 133P foi observada na última vez em Dezembro de 2002. O ressurgimento de actividade próximo do periélio [ponto da órbita em que o objecto está mais próximo do Sol, a acontecer no dia 29 de Junho de 2007] é consistente com a identificação deste objecto como um pequeno corpo portador de gelos [não apenas água mas também outros como por exemplo: metano, monóxido de carbono, dióxido de carbono] ou "cometa da cintura principal" (Hsieh et al. 2004, Astronomical Journal, vol. 127, pag. 2997). Encorajam-se observações para caracterizar a evolução da perda de massa [devido à sublimação dos gelos e libertação de poeiras] nos próximos meses.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O Planeta Anão Eris: maior e mais maciço que Plutão.

O objecto trans-Neptuniano, e planeta anão, Eris, volta à carga. Mike Brown e Emily Schaller, publicaram na revista Science a medição da massa conjunta de Eris e sua lua Dysnomia através dos parâmetros orbitais da lua Dysnomia (ver os links).

Para a determinação da órbita de Dysnomia foram utilizados o telescópio de 10 metros Keck (Mauna Kea, Hawaii) e o Telescópio Espacial Hubble (de 2.4 metros).

A lua Dysnomia, orbita em torno de Eris a uma distância de 17430 km com um período orbital 15.77 dias. Eris e Dysnomia, juntos, possuem uma massa de 1.66x10^22 kg, ou seja: 27% mais maciços que Plutão. Dado o diâmetro de 2400 km de Eris, conclui-se que possui uma densidade de 2.3 g/cm^3. Um valor semelhante ao dos maiores Objectos Trans-Neptunianos que contrasta com as densidades típicas dos trans-Neptunianos mais pequenos (menores que 1 g/cm^3).

Estes resultados parecem confirmar que os Objectos Trans-Neptunianos mais pequenos são mais porosos e menos ricos em material rochoso que os maiores.